Quem pode ser salvo?

27/09/2013 16:42

Perguntaram-me há algum tempo se acredito que um seguidor do Candomblé pode ser salvo. Minha resposta, em coerência com a fé do Evangelho que professo, foi um firme e sonoro “sim”.

Sim, eu creio que um seguidor do Candomblé pode ser salvo, assim como creio na possibilidade de salvação para umbandistas, espíritas, hindus, budistas, judeus, muçulmanos, confucionistas, jainistas e, pasmem, até para cristãos!

Isso não significa, absolutamente, que acredito na falácia de que todos os caminhos levam a Deus. Pelo contrário, sei que há caminhos que levam as pessoas para longe do amor, da misericórdia e da graça, arrastando-as, portanto, para longe do Criador. É o próprio Jesus quem afirma: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (João 14,6).

A convicção que sustento é maravilhosamente retratada na cena em que Jesus e Mack, personagens do livro “A Cabana”, de William P. Young, conversam sobre o significado do verdadeiro relacionamento com Deus:

“Chegaram à porta da carpintaria. De novo Jesus parou.

– Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos. Não tenho desejo de torna-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas do Papai, em irmãos e irmãs, em meus amados.

– Isso significa que todas as estradas levam a você?

– De jeito nenhum – sorriu Jesus enquanto estendia a mão para a porta da oficina. – A maioria das estradas não leva a lugar nenhum. O que isso significa é que eu viajarei por qualquer estrada para encontrar vocês”.

As Sagradas Escrituras nos oferecem inúmeras indicações desse fato. Em primeiro lugar, São Paulo nos assegura que o justo juízo de Deus levará em conta todas as peculiaridades culturais, históricas e individuais de cada pessoa. Relembremos o que o apóstolo nos ensina em Romanos 2,9-16:

“Haverá tribulação e angústia para todo aquele que pratica o mal, primeiro para o judeu, depois para o grego. Mas haverá glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu, depois para o grego. Pois Deus não faz distinção de pessoas. Todos os que pecaram sem a Lei, sem a Lei também perecerão. Todos os que pecaram sob o regime da Lei, pela Lei serão julgados. Pois não são aqueles que ouvem a Lei que são justos diante de Deus, e sim aqueles que praticam o que a Lei manda. Os pagãos não têm a Lei. Mas, embora não a tenham, se eles fazem espontaneamente o que a Lei manda, eles próprios são Lei para si mesmos. Eles assim mostram que os preceitos da Lei estão escritos em seus corações; a consciência deles também testemunha isso, assim como os julgamentos interiores, que ora os condenam, ora os aprovam. É o que vai acontecer no dia em que Deus, segundo o meu Evangelho, for julgar, por meio de Jesus Cristo, o comportamento secreto dos homens”.

Em segundo lugar, São Paulo afirma: “De fato, a Escritura diz: ‘Todo aquele que acredita nele, não será confundido’. Não há distinção entre judeu e grego, pois ele é o Senhor de todos, rico para com todos aqueles que o invocam. Porque todo aquele que invoca o nome do Senhor, será salvo” (Romanos 10,11-13).

Alguns poderiam objetar: “O apóstolo fala sobre ‘invocar o nome do Senhor’, isto é, o Nome de Jesus. Logo, apenas quem conhece o Evangelho como revelação histórica de Jesus de Nazaré e torna-se cristão pode ser salvo”. Discordo de tal raciocínio, antes de tudo porque o próprio Jesus afirma (e a razão simples nos convence da verdade do que foi dito) que ninguém será julgado por aquilo que não sabe:

“...aquele empregado que, mesmo conhecendo a vontade do seu senhor, não ficou preparado, nem agiu conforme a vontade dele, será chicoteado muitas vezes. Mas, o empregado que não sabia, e fez coisas que merecem castigo, será chicoteado poucas vezes. A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lucas 12,47-48).

Além disso, creio com a mais firme convicção que o Deus que conhece cada partícula subatômica em cada grão de poeira do universo, e que sonda as profundezas do espírito humano, sabe reconhecer quando uma alma humana chama por Ele, ainda que tal pessoa O chame por um Nome diferente daquele pelo qual aprendi a chama-lo.

Na crônica “A última batalha”, de C.S. Lewis, o calormano Emeth, adorador do sanguinário deus pagão Tash, encontra-se com Aslam, personificação do Senhor Jesus. Ao presenciar o Deus verdadeiro, Emeth é tomado de sagrado terror:

“Então prostrei-me aos seus pés, pensando: ‘Esta é certamente a hora da minha morte, pois o Leão (que é digno de toda a honra) bem saberá que, durante toda a minha vida, tenho servido a Tash e não a ele. No entanto, melhor é ver o Leão e depois morrer do que ser Imperador do mundo inteiro e viver sem nunca tê-lo encontrado”. Porém, o glorioso ser inclinou a cabeça dourada e me tocou a testa com a língua, dizendo: ‘Filho, sê bem-vindo!” Mas eu repliquei: “Ai de mim, Senhor! Não sou filho teu, mas, sim, um servo de Tash!” “Criança”, continuou ele, “todo o serviço que tens prestado a Tash, eu o considero como serviço prestado a mim”. Então, tão grande era o meu anseio por sabedoria e conhecimento, que venci o temor e resolvi indagar o glorioso ser: “Senhor, é verdade, então (...) que tu e Tash sois um só?” O Leão deu um rugido tão forte que a terra tremeu (sua ira, porém, não era contra mim), dizendo: “É mentira! Não porque ele e eu sejamos um, mas por sermos o oposto um do outro é que tomo para mim os serviços que tens prestado a ele. Pois eu e ele somos tão diferentes, que nenhum serviço que seja vil pode ser prestado a mim, e nada que não seja vil pode ser feito para ele. Portanto, se qualquer homem jurar em nome de Tash e guardar o juramento por amor a sua palavra, na verdade jurou em meu nome, mesmo sem saber, e eu é que o recompensarei. E se algum homem cometer alguma crueldade em meu nome, então, embora tenha pronunciado o nome de Aslam, é a Tash que está servindo, e é Tash quem aceita suas obras. Compreendes isto, filho meu?” Eu respondi: “Senhor, tu sabes o quanto eu compreendo”. E, constrangido, pela verdade, acrescentei: “Mesmo assim, tenho aspirado por Tash todos os dias da minha vida”. “Amado”, falou o glorioso ser, “não fora o teu anseio por mim, não terias aspirado tão intensamente, nem por tanto tempo. Pois todos encontram o que realmente procuram”.

Adeptos do Candomblé ou da Umbanda não serão salvos por seus orixás e guias, nem pelos inúmeros rituais de purificação. Budistas, hindus e espíritas não serão salvos por infindas reencarnações, boas obras e auto aperfeiçoamento. Judeus não serão salvos pela obediência à Torá, assim como muçulmanos não se salvarão por meio das palavras do profeta. Cristãos não serão redimidos por sacramentos, reuniões de adoração ou pela Bíblia. Ateus não se salvarão por sua falta de fé.

Todos aqueles que um dia forem convidados a assentar-se à mesa do Cordeiro, tendo lavado suas vestes e entrado na Cidade pelas portas, só estarão lá, diante do Deus do universo, única e exclusivamente pela graça única de nosso Senhor Jesus Cristo! Nas palavras imorredouras do grande Feodor Dostoievsky em “Crime e Castigo”:

“No último Julgamento Cristo nos dirá: ‘Vinde, vós também! Vinde, bêbados! Vinde, vacilantes! Vinde, filhos do opróbrio!’. E dir-nos-á [aos que nos consideramos salvos por nossas crenças e virtudes pessoais]: “Seres vis, vós que sois à imagem da besta e trazeis a sua marca, vinde porém da mesma forma, vós também!” E os sábios e prudentes dirão: ‘Senhor, por que os acolhes?” E ele dirá: ‘Se os acolho, homens sábios, se os acolho, homens prudentes, é porque nenhum deles foi jamais julgado digno’. E ele estenderá os seus braços, e cairemos a seus pés, e choraremos e soluçaremos, e então compreenderemos tudo, compreenderemos o evangelho da graça! Senhor, venha o teu reino!”.

Paz e bem!